Trojan ViruZ


Título: Trojan ViruZ 

  • Capítulo #1

Sinopse: Henrique….

  • Formato: webcrônica
  • Roteiro: Glaucio Aranha
  • Arte e Capa: Glaucio Aranha

 

#1

De repente, eu havia me tornado um espião de tudo a serviço de minha busca de sentido. Observando todos ao meu redor. registrando e analisando o que falavam, como agiam, o que pensavam. Fui me distanciando dos laços afetivos e me prendendo à máxima isenção possível. Eu interagia, mas não era Eu quem interagia, mas os muitos personagens que fui criando para testar a reação das pessoas. Eram máscaras usadas como experimentos contínuos. Algo como “se eu desempenhar o papel X com as pessoas de um grupo tal, como as pessoas irão reagir?”.

Quando vi, o mundo ao meu redor havia se transformado em um grande experimento social. As pessoas e suas relações pouco me importavam. Pode soar meio vilanesco, mas eu realmente não me importo. O que me era mais valioso, desde então, era o modo como todos agiam, reagiam, interpretavam e eram interpretados. Rapidamente, cheguei à conclusão de que tudo era uma gigantesca “alucinação”. Todos vivem enredados e chafurdados em construções mentais frágeis. Deixam de ser intérpretes e se transformam em signos dentro do mosaico universal.

Por um lado, meu distanciamento me fazia menos “humano”, tomando por “humano” o comportamento médio das pessoas. Por outro, ele me enchia de um humor insólito – alguns diriam cruel – diante do non sense da vida. Não era um esvaziamento dadaista, mas um esvaziamento oriental, um tanto quanto zen. Se nada faz sentido, simplesmente sendo o que é, então tudo faz sentido, bastando a cada um ser. Posso ser livre para pensar o que quiser do mundo, visto que o que todos pensam do mundo é meramente uma percepção vaga e provisória: uma interpretação.

Ficar sozinho e afastado se tornou fonte de prazer. vaidosamente, preferia ser tomado por exótico, peculiar ou doido (que é um estado mais anárquico do que o termo patológico ‘louco’). Assim, eu comecei a trilhar o caminho de quem sou hoje, ou melhor, do personagem que decidi ser no momento. Esse Henrique que ora é bom, ora mau; ora moral, ora destituído de valores; ora tradicionalista, ora iconoclasta.

– E o que eu tenho com isso, seu filha da puta? Não tenho que ficar ouvindo esse monólogo babaca.

Bem, tirando o fato de que é mais um solilóquio do que um monólogo, tem absolutamente tudo com você, pois no final vamos decidir juntos se eu te mato ou não, afinal você é um daqueles sujeitos que quis saber demais e, agora, você sabe demais. Aceita uma taça de vinho?

#2