Eu trabalhava em uma clínica de neuroimagem. Era um mero auxiliar. Não era um emprego desses que pensamos para a vida toda, mas ajudava a bancar a faculdade. Um dia entrou um cara gordo e meio atrapalhado, com o celular tocando em um volume absurdo uma música chatíssima e irritante. Ele foi passando pelo balcão e começou a mexer nas pastas dentro da secretaria. Vi que ninguém reclama e fui até ele.
– Bom dia, o senhor não pode entrar aí. É apenas para funcionários.
Ele parou como se tivesse recebido voz de prisão e olhou para mim, depois para os outros. Então abriu um sorriso para mim como se estivesse na frente de um grande amigo. E começou a usar libras para se comunicar comigo. Ele não devia escutar bem, por isso a música deveria estar tão alta.
– Cara, eu não entendo libras. Você consegue ler meus lábio? – perguntei.
Neste momento, ele ficou com uma cara verdadeiramente assustada e começou a explicar que achou que eu era surdo. Depois veio uma bateria de perguntas sem pé nem cabeça. Eu pedia para ele desligar o aparelho, mas ele insistia que não podia fazer.
Bem, foi assim que eu conheci Gustavo, em uma situação completamente sem sentido. mais tarde descobriria que o cara era muito gente boa e principalmente que eu estava entrando em mundo digno de ficção científica. O som bizarro era uma sequência de sons que formava um código, que enviava um comando para que as pessoas ignorassem a fonte emissora, ou seja, todos que ouviam aquele som eram incapazes de perceber a presença da pessoa. Por isso, ele conseguiu entrar na área restrita sem ser impedido. A coisa parecia fazer sentido, salvo por um aspecto: por que só eu conseguia notar a presença dele?