Introdução – Fragmentos e Sinapses
Rio de Janeiro – 22 de julho de 2013 – 13:00
Lá fora, a cidade se agita como uma rede de informações. As ruas são como neurônios através das quais descargas elétricas vão e vem em um trânsito incessante. As pessoas carregam suas histórias, esbarram uma nas outras formando sinapses, trocando dados, conectando-se e formando um gigantesco aglomerado de histórias. Algumas delas, entretanto, são apagadas e alteradas como arquivos sem importância em uma rede viva. Nora foi uma dessas histórias apagadas. Ela está morrendo e não se sabe exatamente como ou porquê: uma história que soube demais sobre outras histórias.
Eu me chamo Alex e sou um hacker ou melhor um neurohacker. O que isto significa? Bem, que eu invado o corpo das pessoas através de nanorobôs, vasculho suas redes neurais em busca de dados, de informações…
Nora foi uma amiga. Teve morte cerebral declarada a menos de meia hora. Tinha só quarenta e dois anos. Ela me disse que estava correndo perigo. Foi levada a testar um novo protótipo de acoplagem neural a um nanorobô. Estão alegando que foi falha no procedimento, mas eu sei que não foi. Como sei? Bem, porque ela não testou efetivamente o novo modelo. Ela receava que fossem roubar a tecnologia ou algo assim. Pediu que eu fingisse estar usando o protótipo de nanorobô que desenvolvi, mas utilizasse o de sempre. Fiz sem contestar. Ou seja, ela usou o modelo que todos sempre usam aqui, que já foi testado e retestado diversas vezes com total segurança. Armaram alguma para ela, com certeza. Tanto que vieram como abutres exigindo que eu passasse todos os dados sobre o novo protótipo assim que Nora parou de responder. Como poderiam saber que ela já estava com morte cerebral? Ela havia pedido que eu preparasse dados falsos sobre o protótipo e eu os passei para eles. Vão correr atrás do próprio rabo para chegar à conclusão de que o protótipo não apresentava novidades substanciais. Enquanto isso, o verdadeiro está seguro, dentro de mim.
Eu preciso descobrir o que fizeram. Só posso fazer isso conhecendo as informações sobre o que ela viu em suas últimas horas. Para isso, tenho que invadir sua mente. Ela havia sido inoculada com uma versão antiga de nanorobô e ele ainda está lá dentro. Preciso correr até o laboratório para usar a acoplagem. O corpo dela ainda está vivo, ainda… Os médicos já obtiveram autorização para desligar a aparelhagem. A burocracia vai me dar algumas horas para que eu possa coletar a maior quantidade possível de informações e eu pretendo aproveitar cada segundo antes que ela se vá inteiramente.