Abordagem Neurobiológica e Evolucionária da ficção-por Bianca Sofía Niz Di Stéfano, Elexandra Aparecida Simões e Rafael Kanji Nakamura

O avanço da Neurociência, nas últimas décadas, possibilitou uma maior compreensão sobre a relação entre a ficção e sistema nervoso central. O presente estudo “Abordagem Neurobiológica e Evolucionária da ficção” é um artigo de revisão e como tal, limita-se a buscar pelo conhecimento científico a partir de pesquisas e autores que retratam o assunto de forma critica e reflexiva.
A relevância desse tema pauta-se na intima relação com as emoções individuais associadas à ficção, que afeta, por conseguinte, o comportamento humano. Normalmente, a arte pertence a um mundo particular, subjetivo, e sua riqueza reside no fato de que seu poder de perturbar e despertar é variável entre os indivíduos. O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão literária sobre os aspectos neurobiológicos e evolucionário da ficção e sua relação com a criatividade e os elementos artísticos.

O cérebro, ao que parece, não faz muita distinção entre aquilo que é lido e as experiências de vida real. Dessa forma, nas duas situações são estimuladas as mesmas regiões do cérebro. Keith Oatley propõe que a leitura produz uma simulação da realidade. A Ficção, com seus detalhes impregnados, descrições atentas de pessoas e de suas ações, oferece uma réplica da vida especialmente rica de sentimentos humanos. E de fato, essa simulação permite aos leitores uma experiência indisponíveis fora da página: a oportunidade de entrar plenamente em pensamentos e sentimentos de outras pessoas.
Ao lermos um livro, aprendemos de modo consciente ou não que o padrão em interpretação de comportamento reflete o estado de espírito do personagem. A cada leitura reforça nossa tendência em primeiro lugar de fazer esse tipo de interpretação. Pesquisas recentes em psicologia cognitiva e antropologia tem demonstrado que o significado padrão de comportamento de um personagem encontra-se no estado mental do personagem. Para entendimento disso, talvez tenhamos que ir além da explicação de que evoca nossas histórias de leitura pessoal e admitir alguma evidência da nossa história evolutiva.

Teoria da mente é um termo usado por psicólogos cognitivos para descrever a nossa capacidade para explicar o comportamento das pessoas em termos de seus pensamentos, sentimentos, crenças e desejos; a capacidade de interpretarmos o comportamento de pessoas da vida real – e por extensão dos personagens literários. Essa habilidade se desenvolveu durante a “maciça evolução neurocognitiva”, no período do Pleistoceno, quando o nosso cérebro triplicou de tamanho, como resposta adaptativa para o “incrivelmente complexo” desafio enfrentado por nossos antepassados: atribuir sentido ao comportamento de outras pessoas do seu grupo , que podia incluir até dois ou centenas de indivíduos .
A nossa tendência, desse modo, para explicar o comportamento observado em termos de estados mentais subjacentes parece ser tão fácil e automática, porque a nossa arquitetura cognitiva evoluiu para aprender e praticar a leitura da mente diariamente, desde o início da conscientização.
veja o artigo sobre neurônios-espelho, os quais provavelmente estão envolvidos com a nossa capacidade de empatia e de teoria da mente.
Neurônios-espelho- por Alexandre Key Teruya, José Eudes Neri, Kim Soares Marinho e Thaís Gregol de Farias – See more at: http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/#sthash.EXCYa3mV.dpuf

Sendo assim, aspectos relacionados com a cognição humana foram importantes na evolução biológica e manutenção da espécie. Por outro lado, elementos relacionados a artes como historias, cinema, teatros tem a capacidade de despertar áreas neuronais que seriam as mesmas estimuladas se tais acontecimentos fossem de fato verídicos. Nesse caso, fica bem evidente porque “a arte imita a vida e a vida imita a arte”.
Nesse sentido, fatores neurobiológicos associados a fatores ambientais atuam na modulação do Sistema Nervoso e do comportamento humano. Algumas teorias tentam desvendar as áreas cerebrais envolvidas com esses aspectos, outras, contudo, apresentam diferentes definições e abordagens sobre o mesmo assunto e sobre o tema tratado.
A neurociência, por meio de pesquisas em diversas áreas, tem contribuído substancialmente para a compreensão desses aspectos neurobiológicos e ficcional e, consequentemente, favorecido na busca por ações que potencializem essas condições humanas.
Bianca Sofía Niz Di Stéfano, Elexandra Aparecida Simões e Rafael Kanji Nakamura -graduandos do curso de Medicina-XIVa turma-UFGD
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