Mentes inquietas: Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade, melhora do aprendizado com neurofeedback- por Helder Freitas dos Santos
Resenha do artigo, “Are treatment effects of neurofeedback training in children with ADHD related to the successful regulation of brain activity? A review on the learning of regulation of brain activity and a contribution to the discussion on specificity”.
Zuberer A, Brandeis D, Drechsler R. Department of Child and Adolescent Psychiatry, University of Zurich, Zurich, Switzerland, Mar, 2015. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4376076/pdf/fnhum-09-00135.pdf
O estudo enfatiza a importância de estudos relacionados à análise de aprendizagem e desempenho através de neurofeedback em pacientes com (TDAH), para assim avaliar a regulação da aprendizagem ao longo do tempo, proporcionando melhores condições na aquisição de conhecimento.
Inicialmente, (TDAH) significa Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e se caracteriza por um frequente comportamento de desatenção, hiperatividade e impulsividade causando prejuízo na vida social, e/ou escolar do paciente. Os sintomas aparecem na fase inicial do desenvolvimento da criança e devem estar presentes antes dos sete anos, ocasionando prejuízos funcionais simultaneamente em dois ou mais contextos de vida do individuo.
O TDAH frequentemente está associado a outros transtornos como comportamento disruptivo, depressão, ansiedade e transtornos da aprendizagem. As funções executivas têm sido consistentemente relacionadas com o córtex frontal. Disfunções executivas estão relacionadas com o transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade e causam dificuldades com o controle inibitório, memória operacional, flexibilidade cognitiva, tomada de decisões e fluência verbal.
O funcionamento cerebral é determinado por fatores hereditários, como a genética e os processos maturacionais, bem como por fatores ambientais. Isso significa que o cérebro se modifica em resposta aos estímulos e às situações experimentadas. O desenvolvimento em geral e do cérebro em particular, segue sequências geneticamente determinadas. Mas, mesmo com essas instruções genéticas meticulosamente especificadas, o ambiente desempenha um papel importante. Essa dinâmica que se caracteriza por reorganizações e mudanças no cérebro, devidas às experiências ou lesões, é conhecida por plasticidade cerebral ou neuroplasticidade. O cérebro é capaz de mudar a partir da experiência e a aprendizagem possui, portanto, base biológica, ocorrendo por causa de alterações no nível das células nervosas, que, por sua vez, alteram as conexões sinápticas entre elas.

Neurofeedback: The Amazing Non-Drug Way to Improve Focus, Memory, Creativity & Sleep
In a session of neurofeedback, the patient sits with electrodes attached to the scalp and ears and wired to a computer. By concentrating deeply, he/she can control the wavy lines produced by the brain’s electrical activity on a monitor.
The information is presented to the patient in the form of a video game … the patient plays the video game with his or her brain. Eventually the brainwives requiring “reshaping” are excercised toward a more desirable, more regulated performance.
http://www.intenseexperiences.com/neurofeedback.html
O neurofeedback (NF) atua como um trabalho terapêutico realizado através de um treinamento para o cérebro e para a mente, que consiste em modificar padrões neurológicos alterados que interferem no funcionamento adequado do cérebro. O treino mais utilizado em pacientes com THDA é o treino teta/beta, que consiste em diminuir a atividade da banda teta e aumentar a atividade da banda beta. Este tipo de treino pode tratar uma disfunção neuronal subjacente e tem como objetivo reduzir a desatenção e a impulsividade.
Surgindo da junção de pesquisas em neurologia, fisiologia e psicologia experimental, baseia-se no registro e na análise precisos de atividades cerebrais, por um processo em que os parâmetros analisados são selecionados e apresentados em tempo real para quem se está treinando, na forma de autoinformação (feedback). Tais parâmetros representam determinados processos fisiológicos, que normalmente são ignorados e escapam ao controle e à percepção humanos. Desse modo, a técnica de neurofeedback funciona para o cérebro como uma espécie de espelho: ao utilizar-se do sinal de autoinformação, o paciente aprende a controlar melhor esses parâmetros.
Foram identificados 15 estudos publicados, de crianças com TDAH com uso de neurofeedback com bandas de frequência (NF-BF), que incluem a análise da regulação de aprendizagem ao longo do tempo em sessões de formação. Os registros eletroencefalográficos são obtidos através de eletrodos sobrepostos em sítios específicos da cabeça e conectados a um aparelho chamado eletroencefalográfico (EEG). Os pacientes recebem contínuos contatos audiovisuais. Quando se analisa a atividade eletroencefalográfica, muitas vezes olha-se para a atividade dentro de uma banda de frequência específica. As ondas do EEG são uma mistura de várias bandas de frequência diferentes, que são transformadas e quantificadas para posterior análise.

Enquanto a frequência de protocolos de EEG específicos são geralmente empregues com o objetivo de obter ”normalização” de características espectrais em pacientes com TDHA, uma justificativa mais recente é treinar a ”regulação” da atividade destes espectros. As unidades de medidas mais comumente utilizadas são a média do nível de amplitude e a porcentagem de tempo para um limiar de atividade de EEG pré-definida. A quantidade de diminuição ou aumento de amplitude na direção desejada ou o aumento da quantidade de tempo gasto na gama desejada de frequências devem refletir na melhoria da eficiência da regulação do participante através do tempo.
Em seis dos 15 estudos, NF de potenciais corticais lentos (NF-SCP) foram usados, em algumas vezes, em combinação ou em contraste com NF-FR. SCPs são turnos de potenciais eletro-corticais que são utilizados para o índice regulação da excitabilidade cortical. Ensaios NF-SCP são curtos, duram em cerca de oito segundos, e os participantes são instruídos para melhorar a ativação (ensaios de negatividade) ou reduzir a ativação (ensaios de positividade) em relação à linha de base medida no início de cada ensaio.
Deve-se ter em mente que os padrões de aprendizagem em pacientes com TDAH além de ser extremamente indivíduais, podem-se também substancialmente depender de fatores do ambiente, tais como a relação com o terapeuta, motivação, apoio externo. Estudos que analisam os padrões iniciais de aprendizagem através de EEG ou dentro de sessões com relação ao desempenho global de aprendizagem em EEG, são raros. No entanto, a identificação de preditores precoces de aprendizagem em NF seriam muito úteis em termos de proporcionar uma melhor base para a tomada de decisão terapêutica ou adaptar o treinamento de acordo com os protocolos.
De acordo com vários autores do campo, crianças com TDAH precisam praticar ativamente estratégias mentais para o cérebro autoregular a atividade, sendo instruídas sobre como traduzir a habilidade recém-aprendida na vida cotidiana. É sugerido que, durante as primeiras lições de treinamento, o treinador deve incentivar a criança a encontrar uma estratégia adequada. Esta estratégia inicial deve ser gradualmente reduzida, até que finalmente, possa ser abandonada no decorrer do treinamento, quando a regulação passar a ser automatizada.

Em estudos futuros, mais atenção deve ser dada à questão do motivo que crianças com TDAH podem deixar de aprender a atividade de auto-regulação do cérebro. Uma questão crucial é como interpretar padrões de curva de aprendizagem em termos de desempenho de aprendizagem, e se é possível distinguir padrões de aprendizagem característicos no TDAH.
Referências
Gazzaniga, M. S., & Heatherton, T. F. (2005). Ciência psicológica: mente, cérebro e comportamento. Artmed.
Gevensleben, H, B. Holl, et al. (2010). Neurofeedback training in children with ADHD: 6-month follow-up of a randomised controlled trial. European Child & Adolescent Psychiatry 19 (9): 715- 724.
Londero, I, & Gomes, J. S. (2014). Neurofeedback hemoencefalográfico (HEG): possibilidades de aplicações no campo da saúde. Ciências e Cognição/Science and Cognition, 19 (3).
Swingle, P. (2008). Biofeedback for the Brain: How Neurotherapy Effectively Treats Depression, ADHD, Autism, and More. London, UK: Rutgers University Press.