Por que as pessoas se arriscam?- por Ana Claudia Piccinelli
Resenha do artigo- NORBURY, A.; HUSAIN, M. Sensation-seeking: Dopaminergic modulation and risk for psychopathology. Behav Brain Res, v. 288, p. 79-93, Jul 2015
O ser humano segue incessantemente em uma busca de novas sensações, muitas vezes empenhando grande esforço para experimentar tais sensações, intensas e quase sempre fugazes. Há vários comportamentos que se enquadram neste perfil, como esportes radicais, amores proibidos, jogatina, uso de drogas novas, etc.
Essa busca é um traço da personalidade que difere em intensidade na população geral e que apresenta um componente hereditário. O perfil de personalidade novelty seeking/sensation seeking é um fator de vulnerabilidade para diversos transtornos psiquiátricos com prejuízos sociais, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade e o transtorno bipolar, dependência de substâncias e outras formas de adição como jogo patológico.

O artigo buscou avaliar as formas de mensuração do comportamento de busca de sensações em seres humanos e animais e procurou evidências da função do sistema dopaminérgico nas diferenças individuais em relação a este aspecto da personalidade.
A forma mais difundida de avaliação da busca de sensação foi criada por Marvin Zuckerman em 1974, onde, através de um questionário subdividido em quatro sub-níveis, o indivíduo é avaliado em relação ao seu desejo por participar de atividades perigosas e à intolerância à rotina (Zuckerman M., 1974).
Em animais, o modelo mais difundido de avaliação do comportamento de busca por sensações é feito por meio da avaliação da atividade locomotora roedores quando colocados em um novo ambiente. Esse modelo é capaz de traçar diferentes perfis com roedores com altos e outros com baixos níveis de busca por sensações, porém ainda precisa ser buscado um modelo animal que comporte a avaliação em condições de risco mais elevado, mimetizando o comportamento humano.

É demonstrado que indivíduos buscadores de novidades apresentam uma menor quantidade, ou sensibilidade dos receptores D2 de dopamina, o que sugere que talvez eles busquem novas sensações para obter uma estimulação dopaminérgica basal, que outras pessoas obtêm, mesmo durante tarefas e situações rotineiras, seguras e previsíveis.
Junto a isso, existe a evidencia do envolvimento genético nas diferenças funcionais dos receptores D2, de modo que pessoas com níveis mais elevados de busca por sensações apresentaram níveis mais baixos de plaquetas e isoformas que possuem menor atividade da enzima monoamina oxidase, relacionada com a degradação da dopamina, isso pode demonstrar que esses indivíduos podem possuir uma necessidade maior de estimulação dopaminérgica (Norbury et al., 2015). Outro traço observado neste grupo é que eles têm respostas fisiológicas maiores para estímulos dopaminérgicos, como também para drogas que atuam sobre outros sistemas de neurotransmissores, como oxicodona, diazepam e álcool.
O outro lado da moeda é que estas pessoas tendem a ser mais abertas, mais tolerantes e mais criativas (para revisão, vide Abraham, 2014).
Ana Cláudia Piccinelli-doutoranda em Farmacologia-área Ciêncis da Saúde-FCS-UFGD
Referências
ABRAHAM A. Is there an inverted-U relationship between creativity and psychopathology? Front Psychol. 2014 Jul 28;5:750.
NORBURY, A. et al. Dopamine Regulates Approach-Avoidance in Human Sensation-Seeking. Int J Neuropsychopharmacol, v. 18, n. 10, 2015.
ZUCKERMAN, M.. The sensation seeking motive. Prog Exp Pers Res, v. 7 pp. 79–148, 1974.