Transtorno de humor bipolar e espectro bipolar: manifestações, causas e tratamento

O nosso humor varia e faz da gente gato e sapato. Não conseguimos controlar a nossa tristeza, quando ela vem. Não é possível desligá-la, clicando num botão de controle que nos reprograma para um estado mais agradável. Também a alegria, quando chega, vem como que nos inundando e preenchendo.

O estado afetivo controla o grau de cansaço, motivação, sono, disposição e vontade. Ele muda a forma como enxergamos os fatos, se lhes damos uma interpretação positiva, ou negativa. Muda a nossa interação com as pessoas, se nos mostramos amáveis e abertos, ou retraídos, desconfiados e até agressivos.

Há pessoas que sofrem oscilações de humor extremas, atingindo estados de tristeza profunda e estados de intensa alegria. Estas pessoas têm o transtorno de humor bipolar. Não se trata de momentos, mas de fases, períodos prolongados, nos quais a tristeza se acompanha de diversas mudanças no comportamento— como retraimento e ideação suicida—, prejuízo da capacidade de concentração, memória e raciocínio, do sono e do apetite. Nos períodos de euforia (em linguagem psiquiátrica, fases de mania), surgem comportamentos inadequados de extroversão excessiva, uso de roupas extravagantes, busca indiscriminada de parceiros sexuais, agitação, fala e pensamento acelerado, decisões inapropriadas, como compras, ou doações desmedidas, envolvimento erótico, brigas, etc.

Nas fases de depressão, o paciente tem autocrítica e compreende seu problema. Seu sofrimento é intenso e ele em geral aceita ajuda, embora se mostrando pessimista. Já nos períodos de mania, ele perde por completo a introspecção e se nega a qualquer tratamento. Na mania, a impulsividade é grande de forma que o paciente se expõe a comportamentos de risco, como uso de drogas, infrações de trânsito, endividamento, conflitos com a lei e sexo desprotegido.

Além do enorme sofrimento pessoal e familiar causado por períodos tão extremos de afetividade, ocorre dano cerebral, ou seja, as oscilações de humor se acompanham de sobrecarga metabólica e morte de neurônios (as células do sistema nervoso central). Por isso, o transtorno de humor bipolar tem um componente neurodegenerativo e leva no decorrer dos anos a perdas de funções intelectuais. O tratamento é medicamentoso e deve ser mantido por toda a vida. A medicação é neuroprotetora, impedindo a lesão neuronal excitotóxica.

Há diferentes graus de transtorno bipolar, alguns casos não são tão extremos, ou seja, envolvem oscilações de humor mais brandas e ou por períodos mais curtos. Ainda assim, o sofrimento é grande e o tratamento é necessário.

O lado positivo da moeda é a associação comprovada entre o traço de bipolaridade e a criatividade. Muitos gênios foram supostamente bipolares, como por exemplo, os escritores Virginia Woolf e Ernest Hemingway, o pintor Vincent van Gogh, o compositor Ludwig von Beethoven. No processo criativo a mente se abre e junta elementos desconexos, construindo ligações inéditas. Períodos de euforia moderada promovem associações incomuns, pois o pensamento vaga e a motivação é intensa. Da mesma forma, períodos de depressão moderada promovem introspecção, divagação e encontro de novos caminhos. Os dois polos são associados à produção criativa. Todavia quando intensas, tanto a mania, como a depressão são incapacitantes e impedem qualquer resultado. A primeira por desorganizar o pensamento e a segunda por estreitá-lo, lentificá-lo e até mesmo paralisá-lo.

“Você pode controlar um elefante enlouquecido. Você pode calar a boca de um urso e de um tigre. Você pode montar num leão e brincar com uma cobra. Pela alquimia, você pode aprender o segredo da vida eterna. Você pode passear pelo universo incógnito e fazer dos deuses os seus vassalos. Você pode permanecer sempre jovem, andar sobre as águas e viver dentro do fogo, mas o controle da mente é ainda melhor que tudo isso e bem mais difícil”. 

Paramahansa Yogananda (tradução livre da autora)

6 thoughts on “Transtorno de humor bipolar e espectro bipolar: manifestações, causas e tratamento

  • 25/03/2023 em 0:51
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    E eu nem sei oq dizer, me sinto cada vez mais deslocada, não tenho vontade de nada, tenho um sono que não acaba sou capaz de dormir por mais de 24h. Choro compulsivamente, tenho momentos de fúria extrema já fui até detida, faço acompanhamento, medicação ansiolítico e carbolitio mas nada melhora, não tenho pensamento suicida mas as vx penso que morrer seria o remédio.

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  • 24/05/2022 em 2:26
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    Faço tratamento com Depakene desde o diagnóstico, há uns três anos mais ou menos, faço terapia e tenho me sentido bem. Mas as vezes faço pausas, que não deveria, no remédio e daí a vida volta a ser uma roda gigante, oscilo a ponto de estar dançando e cantando enquanto laço a louça para depois de cinco minutos me sentar no chão da cozinha e chorar me sentindo um lixo. Apesar de tudo, saber que tenho Transtorno Bipolar foi libertador porque parei de me sentir um extraterrestre. Agora entendi que de fato penso e ano diferente do convencional e não preciso me sentir culpada por isso.

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  • 10/12/2021 em 13:45
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    Ola! Tive raros episódios de hipomania por interação medicamentosa, em transição de remédios. É um estado fantástico, mas curto. Busco tratamento para emular essa condição (ou algo parecido). É absurdo o potencial do cérebro, e não ter acesso a ele é muito frustrante. Me diagnosticaram com transtorno bipolar e me deram quetiapina e, outro médico, lítio, após muitos anos sendo tratado com tendo depressão. Nada resolve e continuo deprimido, tonto, sonolento, medroso de contatos sociais e profissionais. Há alguma linha de tratamento para elevar a “régua” do bem estar para acima da mediocridade? É ilícito ou anti-ético ou heterodoxo prescrever remédios que levem o paciente para a faixa mais alta do que a mera estabilização?

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    • 12/02/2022 em 3:45
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      Se me permite, veja com seu médico se um antidepressivo + um antipsicótico associados ao litio, pode se encaixar pra ti. Eu comecei só com lítio, mas ficava muito depressivo ainda. Aí comecei a tomar amitriptilina, deu certo por 3 meses, mas depois comecei a apresentar sintomas de mania e minha médica optou por suspender o uso e me receitou clopormazina. Depois de um mês comecei a me sentir depressivo de novo e foi aí que a amitriptilina voltou. Agora estou a dois meses usando lítio, amiptriptilina e clopormazina. Tenho me sentido muito equilibrado, mas, faço terapia, me alimento bem, tomo bastante agua, faço um pouco de esporte, meditação, e não bebo mais. Viver com o transtorno é viver no nivel hard, mas ainda assim vale a pena. Aceitar é muito dificil mas é muito libertador, é como nascer de novo.

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  • 22/12/2020 em 11:17
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    Toda vez que leio um pouco sobre TAB basicamente vejo as mesmas coisas, onde sempre se baseiam nos tipos. Cheguei a ver um pouco sobre a ideia do espectro bipolar, achei bem interessante.
    É muito difícil pra mim conviver com isso, principalmente por viver variações claras em um mesmo dia e não encontro muito sobre isso. De ter feito tratamentos diversas vezes, mas não ter tido resultados duradouros e ver que quanto mais o tempo passa é mais difícil conviver com isso tudo.

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    • 17/01/2021 em 4:50
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      Também me sinto assim!
      Todos os dias um vai e vem, tenho percebido que minhas alterações ocorrem muito em função das ocorrências do dia, semanas…
      Os estabilizadores me ajudam é muito. Infelizmente não há cura para nós, o que nos resta é apenas aprender a conviver, desenvolver o autoconhecimento e torcermos para que hajam pessoal que decidam conviver conosco.
      Meus maiores medos hj é fica… não tenho família, literalmente e decidi não ter filhos pela doença. Não quero correr o risco de deixar essa genética. Tenho um companheiro e decidimos morar separados, tem funcionado ha 5 anos. Vamos ver até qdo.

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