Sistemas de classificação de crianças com transtorno na fala – resenha do artigo “ How should children with speech sound disorders be classified? A review and critical evaluation of current classification systems” por Taínne Gomes Lopes

Bebê pòe a vovó para dormir-de Melanie Alcântara Correa-reflexões sobre comunicação não verbal-neurônios espelho e sua importância no desenvolvimento da linguagem.....
Bebê põe a vovó para dormir-de Melanie Alcântara Correa-reflexões sobre comunicação não verbal-neurônios espelho e sua importância no desenvolvimento da linguagem…..

 

Waring R, Cavaleiro R. International Journal of Language & Communication Disorders. jan, 2013. v. 48, 25-40.

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1460-6984.2012.00195.x/full

Crianças com distúrbio na fala formam um grupo heterogênio dificultando a classificação universal e a união em grupos mais seletivos.  Existe suporte para a divisão da desordem do som da fala (SSD – speech sound disorders) em causas conhecida e desconhecida. Déficit cognitivo, perda de audição, paralisia cerebral são causas atribuídas a uma minoria de casos e o enorme grupo restante permanece sem classificação, por não possuir qualquer outra deficiência seja sensorial, neurológica ou psicológica.

O artigo remete a uma avaliação dos sistemas atuais de classificação de SSD. A dificuldade dos diversos sistemas é subdividir o grupo com causa desconhecida.

Durante séculos surgem pesquisas relacionadas às características humanas para a formação do intelecto. Há os que defendiam o conhecimento adquirido por experiências sensoriais e motoras que se formavam pouco a pouco, já outra vertente acreditava que alguns aspectos do conhecimento eram inatos. As teorias mais atuais, baseadas em experiências científicas, tratam do “construtivismo racional” em que o ambiente e a criança são sujeitos ativos na aquisição do conhecimento, assumindo também que algumas informações inatas são importantes para delineá-lo.

 

trepanação
Trepanação: técnica realizada ao longo de várias eras. Consiste em perfurar o crânio de um homem vivo, sem anestesia ou assepsia. Forma mais antiga de cirurgia cerebral.

 

Hoje sabemos que o bebê nasce com áreas do cérebro geneticamente programadas e continuam a modelagem de acordo com estímulos recebidos. Outra descoberta importante considera que, embora relacionada a ambos os hemisférios cerebrais, a linguagem depende fundamentalmente dos córtices fronto-temporo-parietais do hemisfério esquerdo.

A linguagem é determinada não só pela fala, mas pela compreensão de palavras, tanto fonética quanto gramaticalmente, pelo desenvolvimento do pensamento a ser comunicado, elaboração verbal, início dos movimentos musculares para produção do discurso, sendo que cada aspecto se processa em áreas específicas, interligadas umas as outras.

 

CEREBRO 1
A percepção inicial, visual ou auditiva, da fala é formada em áreas distintas e transmitida para o giro angular. Do giro angular, esse código é transmitido para a área de Wernicke, onde seria reconhecido como linguagem e associado a um significado. Esse código neural comum seria, em seguida, transmitido para a área de Broca, sendo transformado de uma representação sensorial para uma representação motora, podendo gerar linguagem falada ou escrita.

Embora a linguagem seja uma aquisição natural da criança, os transtornos são comuns nessa época e os prejuízos adquiridos devem ser classificados adequadamente considerando que o circuito pode ser interrompido em múltiplos locais, determinando casos diferentes.

O artigo ressalta características de determinados sistemas, considerando o embasamento teórico e prático para união de casos semelhantes em uma mesma categoria.

A categorização baseada na abordagem etiológica (médica) trata da condição patológica responsável pela SSD, deixando em segundo plano a normalidade.

A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde – criada pela OMS em 2001- considera a estrutura do corpo, fatores ambientais e pessoais a fim de facilitar a distribuição em grupos.

O SDCS – Speech Disorders Classification System – considera que a variação genética unida a fatores ambientais é o marcador primário para formação de subgrupos.

A abordagem descritiva linguística busca identificar o que difere na fala de uma criança com SSD em relação à outra com desenvolvimento normal.

O Sistema de Diagnóstico Diferencial, criado por Dood, identifica erros padrões que são amplamente reconhecidos. Dood investigou os conhecimentos linguísticos, o cognitivo, o processamento de saída e habilidades de execução motora de crianças para selecionar seus subgrupos.

A Abordagem de Processamento Psicolinguístico busca explicar a origem do comprometimento da fala servindo como ponte entre a classificação etiológica e a caracterização de subgrupos, variando de acordo com as complexidades para descobrir o local da quebra de processamento da fala, podendo ser testado em qualquer criança, independente de causa conhecida ou não.

Tabelas apresentaram um resumo das categorias de cada um dos sistemas, compartilhando de forma adequada o conteúdo do artigo. Após a caracterização, os sistemas foram avaliados de acordo com sua validade, tamanho da amostra, sensibilidade e especificidade.

Resultados de diversos estudos mostraram que crianças que receberam intervenções orientadas apresentaram melhora significativa em relação às crianças que não receberam. Estes resultados sugerem que é adequado investigar tratamentos específicos para subgrupos SSD.

A confiabilidade dos sistemas se baseia em testes padronizados, com amostra ampla e que permita a classificação geral de todas as crianças. Apesar de ainda existir controvérsia em diferenciar o subgrupo de causa desconhecida, necessitando de provas mais consistentes e adequadas para a validação das diferenças qualitativas entre essas crianças, o artigo contribui para demonstrar a importância substancial de cada sistema e ponderar os potenciais do estudo.

O que se busca não é apenas um agrupamento objetivo, mas compreender os efeitos da SSD na infância, nas relações interpessoais, na educação e, principalmente, na qualidade de vida.

Todos os sistemas partilham da mesma finalidade que consiste em melhorar a eficácia do tratamento de crianças com SSD de origem desconhecida e auxiliar futuras pesquisas.

E o desafio ainda persiste: criar um sistema de classificação universal, que esteja adequado à categorização dos casos desconhecidos, facilitando o diagnóstico e trazendo consigo o tratamento diferenciado a quem necessita.

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Taínne Gomes Lopes

Natural de Brasília-DF, nascida em 03 de abril de 1993. Graduanda da XIV turma de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados, bolsista do programa Jovens Talentos para a Ciência- Capes/CNPq.

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

GUYTON, A.C; HALL, J. E. Tratado de fisiologia médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, 11 ed.

 

KONKIEWITZ, E.C. Aprendizagem, comportamentos e emoções na infância e adolescência: uma visão transdisciplinar.Dourados: UFGD, 2013.

 

MENEGOTTO E.M.A. Neurobiologia da Linguagem e Afasias: Os processos da comunicação e suas deficiências. Tópicos de Neurociência Clínica. Dourados:UFGD, 2010, cap VI, p. 79-93.

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