Delírios monotemáticos de falsa identificação: síndrome de Capgras e síndrome de Frégoli
por Luna Dias Guillen, Iagor Carolino de Souza, Stéphane Ohame Lima e Vanéli Silva Martins
Delírio é uma crença não justificada pelas evidências disponíveis e que, no entanto, é inabalável e incorrigível, resistindo a revisões, argumentações ou provas do contrário, mesmo quando é absurda. Este texto apresenta dois exemplos de delírios de falsa identificação e revê as suas hipóteses neurobiológicas.
Na síndrome de Capgras[1], o indivíduo passa a reconhecer alguém próximo, geralmente o cônjuge, como um impostor. O fato mais notável desses pacientes é que os mesmos são lúcidos, coerentes, sua memória é normal e outros aspectos de sua percepção visual são completamente intactos[2][3].
A Síndrome de Capgras pode ocorrer na esquizofrenia paranóide, no transtorno esquizoafetivo, nos transtornos de humor, na demência do tipo Alzheimer, na demência dos corpos de Lewy, na demênciavascular, após traumatismo craniano, na epilepsia, após acidente vascular cerebral, em tumor pituitário, na esclerose múltipla, mieloma múltiplo, encefalite viral, patologia do lobo frontal e AIDS.
A hipótese mais provável para o desenvolvimento desta síndrome é a desconexão entre a área fusiforme da face (associada ao reconhecimento de faces) e a amígdala (responsável pela atribuição de significado, ou valor emocional dessa entrada visual)[2].
Para testar esta hipótese, Hirstein e Ramchandran utilizaram uma técnica relativamente simples: o Galvanic Skin Response, ou resposta galvânica da pele (GSR), que mede a mudança na sua resistência à condução elétrica em situações de estímulo emocional, devido à ativação do sistema límbico e consequente resposta simpático-adrenérgica das glândulas sudoríparas[2]. Indivíduos normais, ao verem imagens de seus familiares apresentam GSR, indicando que estas pessoas lhes são emocionalmente relevantes. Já os pacientes com a síndrome de Capgras, apesar de reconhecerem seus familiares nas imagens apresentadas, não evidenciam GSR, o que indica falta de ativação de estruturas límbicas. Por outro lado, quando falam com a pessoa considerada impostora por telefone (estímulo auditivo), não experimentam a sensação de que se trata de uma farsa e apresentam a GSR, da mesma forma como são capazes de apresentá-la em situações de perigo – como gestos de ameaças e ruídos altos, o que evidencia que suas estruturas límbicas estão com ativação normal[2]. Entretanto, como explicar o fato de o paciente, simplesmente por não sentir a mesma emoção – “o calor” – de antes em relação à determinada pessoa, criar uma teoria explicativa tão implausível como a de que a mesma seja uma impostora? Uma resposta para isso seria a existência de uma lesão adicional no córtex frontal direito que, juntamente com a desconexão entre a área fusiforme da face (AFF) e a amígdala, resultaria em tais delírios[2].
Acredita-se, que o hemisfério esquerdo crie essa teoria implausível de que o familiar é um impostor. Entretanto, como o hemisfério direito está lesado, ele não realizaria de maneira adequada à função que deveria realizar: censurar o hemisfério esquerdo. Isso resultaria na aceitação acrítica da crença delirante, ou seja em um erro de juízo da realidade irrevogável por demonstrações empíricas, ou por argumentação lógica[2].
A síndrome de Frégoli também pertence ao grupo de síndromes delirantes de falsa identificação e foi descrita pela primeira vez em 1927. A condição recebeu o nome do ator italiano Leopoldo Fregoli, que era famoso por sua capacidade de fazer rápidas mudanças em sua aparência durante seus atos de palco. A característica da síndrome Frégoli é a crença de que uma pessoa familiar está disfarçada como uma pessoa estranha, ou seja, a pessoa familiar assumiu uma aparência física diferente, mas continua a ser a mesma pessoa psicologicamente. [4]A síndrome tem sido associada com disfunção cerebral orgânica, em particular do hemisfério direito, num circuito responsável pela avaliação de crenças,[5] no entanto, a maioria dos casos ocorrem na configuração da esquizofrenia. A síndrome de Frégoli tem sido associada com um certo grau de disfunção de processamento de faces. Entende-se que seja uma síndrome de hiperidentificação, causada por uma ruptura do processo de identificação, o que leva à impossibilidade de atribuir a unicidade de uma pessoa específica[4].

Capgras Delusion
Author: steve1223 (http://www.connectingsingles.com)
I can see she looks at me strangely
Something here is not right My Darling wife, the love of my life
Might not be who I think she is
Yesterday I’m sure she was
The one I thought she was
But today, what can I say
I think they switched her round
She looks and talks the same
She acts and walks the same
Why hell, she even smells the same
Yet there is something in those eyes
Though the body looks just the same
I’m sure it’s not my Darling
I don’t know why they switched her round
There has to be a reason
For now I will play their game
I’ll not let on I know it
Sometime soon they will slip up
And then I will have caught them
REFERÊNCIAS
1- Ramachandran, V. S.; Hirtein, W.; Capgras syndrome: a novel probe for understanding the neural representation of the identity and familiarity of persons; The Royal Society; 1997.
2- Ramachandran, V. S.; Consciousness an body image: lessons from phantom limbs, Capgras syndrome and pain asymbolia; The Royal Society, 1998.
3- Turkiexicz, G.; Zanetti, M. V.; Stevin, Z.; Cordeiro, Q.. Coexistência da síndrome de Capgras e Frégoli associadas a redução de volume frontotemporal e hiperintensidades em substância branca cerebral; Revista de Psiquiatria Clínica; 2009.
4- Atta K, Forlenza N, Gujski M, Hashmi S, Isaac G. Delusional Misidentification Syndromes: Separate Disorders or Unusual Presentations of Existing DSM-IV Categories? Psychiatry (Edgmont). 2006 Sep;3(9):56-61
5-Coltheart M, Langdon R, McKay R.Schizophrenia and monothematic delusions. Schizophr Bull. 2007 May;33(3):642-7. Epub 2007 Mar 19. Review.
HI, This is really helpful. Thanks for sharing this valuable information.
Na equipe do site, há algum neurocientista que entenda de gagueira?
Oi, Gustavo!
Obrigada pelos seus comentários e a dica do vídeo. Não há no blog alguém que pesquise, ou seja especialista em gagueira.
abraços
Elisabete Castelon Konkiewitz
boa noite sou fâ dessa materia neuro educação, achei muito boa essa materia , gostaria de algus artigos dessa materia obrigado
Oi, Flávio!
Estamos preparando para daqui a alguns meses um texto mais elaborado sobre síndorme de Capgras. Aguarde. Por enquanto, poderia se dirigir à literatura no site PUBMED.
grande abraço
Elisabete Castelon Konkiewitz
Minha irmã tem essa síndrome mas não aceita nenhum tratamento . Não sei como agir . Alguma dica ?