Compreendendo as crianças superdotadas com transtorno de aprendizado

Por Elisabete Castelon Konkiewitz

Resumo:
Os testes de Q.I. partem do princípio de que a inteligência seria um fator mensurável e relativamente estável no decorrer da vida. Spearman propôs a existência de um fator geral – fator g – que contribuiria para o bom desempenho em todos os tipos de tarefas cognitivas. Este fator g é avaliado em testes de inteligência fluida, a qual consiste na habilidade de pensar logicamente e de resolver problemas em situações novas, independentemente de conhecimento prévio, relacionando-se à abstração e ao raciocínio. Há dados de neuroimagem, de genética e de neuropsicologia que favorecem a ideia de uma base neurobiológica comum – como circuitos neurais, áreas cerebrais e genes -, subjacente a diversas funções cognitivas associadas ao conceito de inteligência. No entanto, existem outras abordagens que entendem a inteligência como multidimensional, argumentando a favor da existência de diferentes perfis individuais. Apesar de a relação entre inteligência e criatividade também ser controversa, medidas de inteligência fluida (Gf) preveem estratégias executivas associadas à flexibilidade (como produção mais frequente de ideias pertencentes a categorias diferentes), a qual, por sua vez, se associa à criatividade.

A definição e os critérios de superdotação, ou altas habilidades também são debatidos na literatura. Acredita-se que vários fatores, como idade da avaliação, testes utilizados, avaliação ou não da criatividade, podem influenciar a sua detecção. No entanto, os órgãos governamentais, como o MEC e o Escritório Americano de Educação (USOE), adotam uma compreensão multidimensional das altas habilidades, considerando todos aqueles que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer um dos seguintes aspectos, isolados, ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criador ou produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes visuais, dramáticas e musicais e capacidade
psicomotora.

As crianças com altas habilidades e transtornos de aprendizado constituem um grupo bastante heterogêneo, apresentando por um lado elevada habilidade intelectual e ao mesmo tempo uma dificuldade excepcional em áreas circunscritas da sua cognição, podendo ser esta devida ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, à dislexia, à discalculia, dentre outros. Os desafios práticos são o risco de os transtornos de aprendizado “neutralizarem”, ou mascarem a
superdotação, os protocolos de testagem e identificação não detectarem este grupo de crianças e elas não receberem nem o apoio/terapia para as suas dificuldades, nem o estímulo adequado à suas altas habilidades. É preciso que profissionais da educação e da saúde atentem para este grupo de crianças e desenvolvam estratégias adequadas de reconhecimento e apoio individualizados.
Palavras-chave: superdotação; criança; transtorno de aprendizagem.

Para citação: Konkiewitz, E.C. (2012). Compreendendo as crianças superdotadas com transtorno de
aprendizado [Resumo]. Em: Ciências e Cognição 2012, Anais do II Encontro Ciências e
Cognição
(online). Rio de Janeiro: Ciências e Cognição. Disponível em:
http://www.cienciasecognicao.org/revista/index.php/ecc/article/view/835

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