Estresse? A culpa pode ser de sua avó

“Você culpa seus pais por tudo / Isso é um absurdo…” (Renato Russo)

Você sabia que as lombrigas (nematódeos) fêmeas, quando estão submetidas a estresse ambiental, usam a serotonina, que é liberada pelo sistema nervoso, como mediador de alerta de ameaça, registrando essa informação nos óvulos não fertilizados? Pois é verdade, e não apenas isso, nesses óvulos esta informação é armazenada e passada adiante para sua prole após a concepção. Esse processo, que gera modificações genéticas adaptativas, manifestando-se nas gerações futuras, também ocorre nos seres humanos.

Um estudo recente, publicado na revista Molecular Cell, revelou que gestantes afetadas pela fome na Holanda de 1944 a 1945, período conhecido como inverno da fome holandesa, deram à luz a crianças influenciadas por esse episódio histórico na idade adulta, apresentando taxas mais altas de obesidade, diabetes e esquizofrenia do que a média. O grupo da Dra. Veena Prahlad, da Universidade de Iowa, sugere que a estratégia de resposta do nematódeo ao estresse foi mudar de mecanismos que dependiam da capacidade de ser altamente responsiva ao estresse, para mecanismos que diminuíam a capacidade de resposta ao estresse, mas, por outro lado, forneciam proteção de longo prazo contra ambientes estressantes. E não somente isso, se o período de exposição da mãe ao estresse fosse curto, apenas a progênie que se desenvolveu a partir de suas células germinativas, que foram submetidas a esse estresse no útero, apresentavam a mudança; no entanto, a progênie dessa progênie (os “netos”) expressariam esta mudança, caso a mãe fosse submetida a um período mais longo de estresse. Isto nos levaria a conclusão de que a intensidade da exposição materna ao estresse é registrada na população.

Para saber mais: Srijit Das, Sehee Min, Veena Prahlad. Gene bookmarking by the heat shock transcription factor programs the insulin-like signaling pathwayMolecular Cell, 2021 DOI: 10.1016/j.molcel.2021.09.022

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Jainne Martins Ferreira – É colunista de Ciências e Cognição, na área de divulgação científica. Atua como Diretora do Núcleo de Neurociências na NGI. Possui graduação em Ciências Biológicas Modalidade Médica pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (1998), mestrado em Neuroimunologia pela Universidade Federal Fluminense (2000) e doutorado em Ciências Biológicas (Biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2005). Atuou como professora de Morfologia e Fisiologia dos cursos da área de saúde da Unigranrio. Realizou pós-doutoramento na New York University e no Laboratório de Farmacologia e Bioquímica Molecular na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7045054695928936

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