Prematuridade: mitos e verdades

Por Anna Carolina Miguel

O termo prematuridade compreende uma condição de nascimento, na qual o bebê nasce antes de atingir um estado de formação e preparação suficiente do organismo para sobreviver e interagir com o ambiente extra útero. Nesse sentido, quanto mais cedo um bebê vem ao mundo, mais risco de vida ele corre. Há, contudo, alguns mitos em relação à prematuridade aos quais precisamos estar atentos.

É mito dizer que um bebê nascido com quase 37 semanas está livre de complicações e dificuldades futuras. Essa informação não é uma verdade absoluta e, por isso, é preciso que o recém-nascido prematuro permaneça em uma UTI neonatal. Este é um cuidado essencial para que possam ser feitos os principais monitoramentos e cuidados. Por outro lado, existem riscos secundários envolvendo a internação e podem ameaçar o pleno desenvolvimento do bebê. A exposição constante à ruídos em incubadora, à experiência dolorosa de manuseios indispensáveis (sondas, seringas etc.), somado à privação de vivências proprioceptivas intra-útero corroboram para um desenvolvimento sensorial de risco para o bebê.
Por isso, é importante compreendermos que um bebê prematuro tem uma longa trajetória a seguir, com diferentes batalhas e superações.

Em primeiro lugar, o corpo do bebê prematuro precisará: amadurecer em condição atípica, ou seja, fora da barriga da mãe e, portanto, de uma forma artificial); desenvolver funções vitais para garantir autonomia mínima de sobrevida, tais como respirar, sugar, engolir, controlar a temperatura corporal e outras; e ganhar o peso mínimo necessário para que possa ter a desejada alta da UTI.

Intercorrências nesse período podem agravar o quadro

Após a alta, o bebê prematuro ainda precisará passar por uma série de cuidados e estimulações específicas que deverão ser promovidas sob orientações profissionais considerando as especificidades de caso para caso, favorecendo o desenvolvimento da criança como um todo.

Na avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor do bebê prematuro, é utilizada a idade corrigida e não a idade cronológica para monitorar suas aquisições e desenvolvimento. Idade cronológica é o tempo de vida real do bebê após o nascimento, por exemplo, um bebê que nasce prematuramente de 1 mês no dia 01 de março, se for considerada somente sua idade cronológica terá 3 mês de idade cronológica no dia 01 de junho. Já a idade corrigida é aquela ajustada ao grau de prematuridade, sendo calculada em relação ao momento da concepção do embrião. Assim, se o bebê do exemplo anterior nasceu prematuramente (1 mês antes do esperado), no dia 01 de abril terá apenas 2 meses de idade corrigida, enquanto sua idade cronológica continuará sendo 3 meses. Portanto, na idade corrigida está sendo considerada uma compensação do tempo que faltava para o seu amadurecimento intrauterino. Considerando isso, é importante ter em mente que o bebê terá um comportamento neurológico semelhante ao de sua idade corrigida, quer ele atinja o termo intra ou extra-útero. Deste modo, nos primeiros dois anos de vida do bebê prematuro, os meses da prematuridade devem ser descontados para que se tenha uma verdadeira noção de sua fase de desenvolvimento.

De qualquer modo, em face da prematuridade, a estimulação precoce se faz indispensável para que o desenvolvimento infantil ocorra em seu potencial máximo, apesar da prematuridade. Isto minimiza lacunas de experiências sensoriais, motoras e sociais não vividas que podem atrapalhar futuramente a aprendizagem e outros aspectos cognitivos.


Anna Carolina Miguel – Fonoaudióloga formada pela UFRJ desde 2006, Mestre em Diversidade e Inclusão – UFF (2017); Especialista em Saúde Mental e Desenvolvimento Infanto Juvenil – Santa Casa de Misericórdia RJ, Especialista em Neurociências Aplicadas a Aprendizagem – IPUB/UFRJ. É diretora técnica responsável pelo serviço de fonoaudiologia do DESPERTA (Núcleo Transdisciplinar para Saúde do Aprendiz), onde supervisiona os atendimentos de crianças com Autismo, Síndromes Genéticas, Transtornos Mentais, Distúrbios de Aprendizagem, Linguagem e Fala, Alterações no Neurodesenvolvimento e outros quadros. Realiza consultoria educacional na área de Inclusão e Acessibilidade. Pesquisa assuntos referentes à Linguagem e à Cognição a fim de maiores aprofundamentos no entendimento dos Transtornos da Aprendizagem e do Neurodesenvolvimento Atípico em prol de intervenções inclusivas mais eficazes. Realiza atividades multidisciplinares de divulgação científica em Neurociências. É parecerista da revista científica Ciências e Cognição. Docente dos cursos de pós graduação lato sensu em: Psicopedagogia Clínica e Educacional, Neuropsicopedagogia, Educação Especial e Inclusiva,Transtornos Mentais , Transtorno do Espectro, Autismo, e Neuroeducação.

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