Como as narrativas satisfazem as principais motivações

Por Glaucio Aranha

Foi publicado na revista Self and Identity, um artigo teórico intitulado “Universal stories: How narratives satisfy core motives” (Histórias universais: como as narrativas satisfazem as principais motivações), de Costabile, Shedlosky-Shoemaker e Austin (2018), no qual os autores defendem a hipótese de que as histórias promoveriam o bem-estar social e psicológico, satisfazendo motivações centrais. Partem da para sobre o papel das narrativas nas vidas humanas e avançam com a argumentação, buscando estabelecer um entendimento sobre como elas se relacionariam com nossas principais motivações.

O atributo alt desta imagem está vazio. O nome do arquivo é 51xpvXCRMUL._SX327_BO1,204,203,200_.jpg

Neste sentido, relacionam a narratividade com as cinco motivações sociais apontadas por Susan Fiske, no livro “Social beings: Core motives in Social Psychology” (2010) como bases para a satisfação das necessidades humanas, a saber: pertencer, compreender, controlar, auto-aperfeiçoar e confiar.

O artigo “Universal stories” abre espaço para retomar discussões acerca do papel da narratividade como aspecto imanente à condição humana, ou seja, para pensar a produção e circulação de histórias, desde tempos imemoriais, como um princípio organizador da experiência do ser humano, que viabiliza a construção de representações acerca do que o cerca. Tais representações estabeleceriam bases para procedimentos perceptivos e interpretativos sobre a existência. Esses procedimentos, por sua vez, seriam consolidados socialmente como matrizes modeladoras, por exemplo, na formação da cultura de um povo (BRUNER, 1997, 2002). Nesse sentido, a narratividade desempenharia um papel cognitivo de organização de fragmentos informacionais (dados) na constituição de uma compreensão/interpretação do contexto em que se vive (TURNER, 1996). Assim, as narrativas e suas formas de transmissão (circulação) poderiam ser compreendidas como elementos relevantes para a própria constituição da percepção da condição humana.

Costabile e seus colegas (2018) argumentam que tanto narrativas autobiográficas, quanto narrativas de entretenimento, podem satisfazer as cinco principais motivações descrias por Susan Fiske. Para tanto, os autores estruturam seu artigo em seções individuais para cada um dos principais motivos. E, deste modo, apresenta separadamente evidências empíricas com o fim de sustentar a relação entre as narrativas (histórias) e as motivações centrais relacionadas.

Na conclusão, os autores destacam a necessidade de mais pesquisas interdisciplinares sobre narrativas, que coloquem foco em pesquisas que promovam o diálogo com as teorias e pesquisas psicológicas mais tradicionais, buscando interfaces que possam contribuir para o aprofundamento do tema. Além disso, acreditam que as abordagens narrativas podem representar um importante passo para a pesquisa de relacionamentos intergrupais, promovendo a superação de resistências da ala mais tradicional.

Referências

BERYTAND, D. Narratividade e discursividade: pontos de, referência e problemáticasSignificação: Revista De Cultura Audiovisual30(19), 9-50, 2003. https://doi.org/10.11606/issn.2316-7114.sig.2003.65567

BRUNER, Jerome. Atos de significação. Tradução de Sandra Costa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

_______. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 2002.

Costabile, K. A., Shedlosky-Shoemaker, R., & Austin, A. B. Universal stories: How narratives satisfy core motives. Self and Identity17(4), 418-431, 2018. 

FISKE, S. T. . Social beings: Core motives in Social Psychology (2nd ed.). New York, NY: Wiley, 2010.

TURNER, M. The literary mind. Oxford: Oxford University Press, 1996.

Sobre o autor

É doutor em Letras (área: Literatura Comparada), pela Universidade Federal Fluminense (UFF); mestre em Comunicação, Imagem e Informação (área: Novas Tecnologias da Comunicação e da Informação), pela Universidade Federal Fluminense (UFF); e graduado em Direito, pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). É pesquisador-líder do grupo de pesquisa *Homo Narrans: narratividade, produção de sentido e construção da realidade*, no qual coordena as linhas de pesquisa: *Literatura fantástica e produção de sentido*, *Narrativas verbo-visuais e intermidialidade* e *Narratividade, semiose e cognição*; e co-líder do grupo *Neuroeduc – Centro de Estudos em Neurociências e Educação* (OCC/UFRJ), no qual integra a coordenação da linha de pesquisa *Narratividade, Experiência Estética Intersemiótica e Cognição*, com foco no uso de narrativas no ensino e na divulgação científica. É pesquisador associado do “Núcleo de Novas Tecnologias e Mídias” – NNOTEM, do IBCCF/UFRJ. Pesquisador associado do *Núcleo de Divulgação Científica e Ensino de Neurociências – Ciências e Cognição*, da UFRJ (CeC-NuDCEN/IBCCF/UFRJ), onde desenvolve estudos sobre semiótica cognitiva. Atua, ainda, na Divisão de Ensino e Pesquisa, da Escola de Administração Judiciária (DIEPE/ESAJ), do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Tem experiência nas áreas de: teoria literária e da narrativa, estética, semiótica, divulgação científica, e cultura pop. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1047823602449101

***

Imagem de destaque: free use Pixabay – https://pixabay.com/pt/photos/um-livro-panorama-natureza-vento-2929646/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Voltar ao início